Poderá um amante secreto ser a solução para um Casamento sem prazer?
Arranjar um amante para recuperar ou ajudar a manter o prazer num casamento onde se começa a sufocar, parece ser o maior contrassenso do universo. Será mesmo?
Casamento insatisfatório
Os gloriosos tempos de paixão e excitação permanente arrumam-se, por norma, nos primórdios das relações, quando ainda tudo há para descobrir, um sobre o outro e até sobre a vida, o amor e o prazer a dois. Depois, bom, depois, a vida acontece, o trabalho acontece, a família (com ou sem filhos) acontece e, um dia, já nada é novo e aquilo que inicialmente apaixonava, agora, aborrece. Os amantes acostumam-se, os corpos já não se atraem nem procuram, o prazer é rotineiro e pouco desejado, os hábitos operam repetições e o casal, seguro do seu amor, mas vestindo-o de preguiça, deixa de investir na valorização, no romance, no prazer sexual como componente vital de uma relação, e até o diálogo parece resumir-se a maçadores assuntos domésticos. Assim surge o fim para muitos relacionamentos.
Não há falta de amor, mas tudo o resto escasseia. Na calmaria dessas águas mornas e paradas, qualquer pessoa que surja no horizonte com fogo no olhar, promessas de aventura, excitação e romance pode facilmente destabilizar o mais sólido dos casamentos.
Novo e excitante
Perante a insatisfação afetiva e/ou sexual, ainda que inconscientemente, os indivíduos tornam-se permeáveis a estímulos exteriores. Um colega de trabalho mais atrevido, de repente surge mais atraente, um olhar mais sexy de uma colaboradora ilumina o dia e, a dado momento, surge o desejo diário de estar com essa pessoa, ou apenas de procurar alguém que nos faça sentir de novo especiais. Pessoas mais racionais, cientes do marasmo em que caíram, mas sem coragem para falar abertamente com o parceiro primário, ou apenas com receio de não serem compreendidos, partem para a resolução de um problema que julgam individual: procurar o prazer de que necessitam. Um caminho mais facilmente trilhável quando se trata de insatisfação sexual e que passa pela procura ativa de amantes em sites de encontros.
Plataformas onde podem encontrar o match perfeito para as suas necessidades e desejos. Procura-se novidade, excitação e o frenesim interior de uma aventura, uma nova paixão proibida que volte a despertar os sentidos e a colmatar necessidades e urgências insatisfeitas na relação primária. Nestes sites, a enorme vantagem, além do sigilo, é poder aprimorar a busca e encontrar um par com o perfil desejado, alguém que partilhe as mesmas preferências e fantasias sexuais, compatível a vários níveis e que também procure um/a amante e não um novo amor.
Recuperar a autoestima
Uma relação extraconjugal, secreta, excitante e apaixonada não é apenas uma promessa de mais e melhor sexo, é, acima de tudo, voltar a estar no centro das atenções, a ser desejada/o e valorizada/o. Um foco que acaba também por se refletir na perceção de si mesmo. Passa a prestar-se mais atenção ao corpo, ao guarda-roupa, a valorizar-se uma imagem mais cuidada e tudo junto resulta numa injeção substantiva de autoestima e autoconfiança. Perceber que ainda excita um/a parceiro/a sexual é uma arma poderosa, bem como é inestimável esse sentimento de empoderamento – para usar uma palavra cara aos nossos dias –, há muito perdido na esfera pessoal e nem sempre compensado por sucessos obtidos noutras áreas. Voltar a perceber o valor pessoal, passar a gerir um segredo, desejar e sentir-se desejado/a e alcançar satisfação sexual é gratificante ainda a outro nível: potencia e promove a segurança, a autonomia e a autoconfiança.
A/o amante acaba por ter um efeito terapêutico notório, exercendo alterações percetíveis a nível exterior e interior que valorizam o indivíduo. Mudanças a que os parceiros primários são sensíveis e que voltam a conferir uma aura de interesse e desejo que se reflete no próprio casamento. O acréscimo de autoestima e segurança, eventualmente até uma maior desinibição sexual, por conta da retomada confiança e de maior experiência, refletem-se na intimidade do casal e, por norma, o casamento, incluindo o prazer sexual, melhoram substancialmente. Tudo graças ao papel de um/a, ou mais amantes que levaram alguém a sentir-se especial de novo.
O amor não é para aqui chamado
A maioria das pessoas que procura um amante, um caso sexual periférico, procura a solução para um problema específico pelo qual muitas vezes se autorrecrimina. O decréscimo ou falta de desejo sexual pode ser atribuído ao parceiro, ou ao nível de entendimento, rotinas e frequência que o casal estabeleceu nessa área, mas pode igualmente ser um fator de autorrecriminação.
A procura de outro/a parceiro/a pode servir para testar a líbido, desbloquear o cansaço sentido e quebrar rotinas pouco estimulantes. Uma aventura singular pode até permitir perceber que esse não é o caminho que se procura e promover a necessidade de maior diálogo e abertura com o parceiro primário. Noutros casos, manter relações extraconjugais com um/a único/a amante, ou procurando vários/as, é assumido como necessário, por ser um escape que possibilita a manutenção do casamento e da relação com a pessoa que se ama, mas ao lado de quem se percebe haver défice de interesse sexual. Nem todos os parceiros são compatíveis a este nível, ainda que se amem e não se imaginem a viver e envelhecer ao lado de outra pessoa. Há ainda exemplos de casais que, de forma aberta e esclarecida, conhecem e aceitam a vida extraconjugal do parceiro, por assumirem o seu pouco interesse em sexo. Compromissos distintos, assumidos a dois ou solitariamente, mas que têm como premissa a procura isolada de sexo e não de amor. Por norma, quando falta o amor, e ainda que se tenha uma vida sexual satisfatória, mais facilmente se percebe a necessidade de acabar uma relação e partir em busca da/o ‘tal’. Há mais reticências em avançar para o divórcio quando se ama o parceiro e a insatisfação está circunscrita à vida sexual.
De imprescindível, amante passa a dispensável
Alguns testemunhos deixam claro que a/o amante pode voltar a reacender a chama da paixão, animar a vida íntima e a satisfação sexual da relação primária. Quando tal acontece, a/o amante, que espoletou no traidor uma nova energia, acaba por tornar-se dispensável. Antes de dar um passo definitivo e irreversível, terminando um casamento, quem sabe se não vale a pena tentar contornar a questão com uma incursão numa via de sentido proibido, mas que pode conduzir ao destino pretendido?