Impacto do isolamento social na sexualidade
Manifestações do isolamento na nossa vida sexual
Mais tempo em casa – para quem o home office é viável –, se inicialmente poderá ter sido encarado como uma oportunidade de maior proximidade entre os casais, com o tempo, revelou-se, em alguns casos, sufocante e opressivo. Claro que isso trouxe consequências a todos os tipos de relacionamentos e interferiu obviamente na sexualidade. Até porque quando a saúde mental é posta à prova, todos os outros aspetos da vida sofrem consequências diretas. Ainda que havendo inúmeras realidades – em função de diferentes tipos de entendimento amoroso, de personalidade e até de especificidades profissionais, e de infindáveis circunstâncias, perante as quais cada pessoa reage distintamente –, entre casais que partilham a mesma casa e se encontram ambos em teletrabalho, os terapeutas apontam como mais comuns dois tipos de situação.
1 – Polo positivo
Houve quem conseguisse aprofundar os laços, voltar a romantizar a relação e aumentar o tempo disponível para a exploração sexual. Para estes sortudos, o isolamento trouxe maior proximidade, melhorou a vida sexual e revelou-se proveitoso. O relacionamento saiu reforçado e houve caminho para redescobrir ou reinventar pontos de união e de satisfação pessoal e amorosa. Sendo o sexo uma válvula de escape para estados de ansiedade, conseguiram ainda ferramentas para melhor lidar com o isolamento.
2 – Polo negativo
Pessoas ansiosas, medrosas e mais pessimistas viram o seu impulso sexual refreado e casais com relações conflituosas, mais longas ou saturadas, que mais
facilmente entram em rota de colisão, encontraram na ‘hiperconvivência’, no maior número de tempo passado lado a lado o aliado ideal para adensar quezílias e
aumentar o afastamento. Irritabilidades e discussões mais frequentes acabam por se intrometer na qualidade da vida íntima e empobrecer ou anular a vida sexual.
Polo criativo
Entre os mais apaixonados e inventivos, houve disponibilidade e vontade para minimizar danos e dar a volta a uma situação manifestamente precária ao nível
da intimidade. Casais – unidos maritalmente ou amantes clandestinos – obrigados a permanecer em casas separadas, desenvolveram formas criativas e apaixonadas de satisfazer a sua vida sexual, mesmo à distância. Para tal, valeram-se igualmente das novas (já não tão novas assim) tecnologias. Videochamadas, sexting, nudes, sexo por telefone ou vídeo… São muitas as ferramentas a que jogaram mão, mesmo quando não as empregaram para comunicar com o cônjuge e, sim, com novas parcerias virtuais, como forma de manter viva e saudável a atividade sexual.
Masturbação, sexo virtual e amantes online
Uma consequência direta do impacto do isolamento na sexualidade revela-se nas formas pelas quais se procura agora satisfação sexual. Na inexistência ou ausência de um parceiro, a masturbação, o sexo virtual e a procura de amantes online são fontes de prazer privilegiadas, algumas mesmo recomendadas a fim de manter a sanidade mental e evitar sobrecarga de stress, ansiedade e estados depressivos. Governos como o argentino e cidades como Nova Iorque – apenas a título de exemplo, já que não foram casos isolados –, recomendaram que se procurasse satisfação sexual de forma virtual ou por via da masturbação, por serem as mais
seguras e as únicas que garantem a não propagação do vírus.
Tendo em vista a manutenção da sanidade mental durante o isolamento, e porque somos o nosso mais seguro parceiro sexual, sexólogos têm vindo a relembrar a importância da masturbação numa vida sexual satisfatória. Não apenas é um substituto eficaz de parceiros ausentes, como é um excelente manual de aprendizagem do prazer individual, o que, por seu turno, promove a vida sexual a dois. Conhecendo melhor o próprio corpo e as fontes de prazer mais certeiras, mais facilmente se expressa a um amante aquilo que se deseja. Além disso, a masturbação liberta endorfinas – hormonas da felicidade e do bem-estar –, agindo diretamente no alívio do stress e da ansiedade. Este pode, precisamente, ser um fator positivo e de relevo do isolamento a que estamos sujeitos.
Inexplicavelmente, dentro do casamento, acabam por surgir rotinas e constrangimentos que impedem a livre expressão daquilo que nos dá mais prazer. Entraves que os amantes clandestinos não conhecem, já que a procura de um parceiro secreto é muitas vezes motivada por essa mesma necessidade de livre expressão sexual, sem receio de julgamentos. Essa é, inegável e manifestamente, uma das vantagens da infidelidade e está na base do sucesso atual de sites de encontros entre pessoas casadas, como o Second Love, onde os amantes se apresentam determinados a esclarecer desde logo aquilo que procuram, com o propósito de alcançar uma mais plena satisfação sexual, sem receios ou vergonhas. É um dado curioso, mas a verdade é que os amantes clandestinos são mais desinibidos e pragmáticos.
Brinquedos sexuais – parceiros seguros
A solo ou acompanhado, os brinquedos sexuais são agora cada vez mais procurados e contemplados nos jogos sexuais. Por conta da pandemia e pelo facilitismo anónimo da compra online, dildos e vibradores estão em alta. Eles tornam a masturbação mais atrativa e menos monótona e jogam um papel importante no sexo virtual, seja por telefone ou videochamada. Mesmo quando não são partilhados, eles requerem, nesta fase, maiores cuidados de higiene, tal como qualquer outro ato sexual, seja com o parceiro primário ou com amantes regulares.
As recomendações apontam para uma rigorosa higienização de todos os brinquedos antes e depois da sua utilização. Tal como as mãos, eles devem ser cuidadosamente lavados com água e sabão durante, pelos menos, vinte segundos.
Relaxar e adaptar
A fim de lidar com o isolamento, é importante manter uma vida sexual ativa e, se possível, criativa, ainda que a mesma tenha de se adaptar ao online e ser mediada pelo computador. É um tempo propício ao autoconhecimento, à descoberta e à experimentação. Amantes separados podem aproveitar para falar sobre aquilo que pode ser melhorado na relação, tornando útil e excitante este tempo de afastamento. Acima de tudo, relaxem e tentem ver o lado positivo da situação, sabendo que este é apenas um intervalo na vida sexual presencial, mas não o fim dela. Como em tudo na vida, adaptação é a palavra chave e há mais do que uma maneira de encontrar satisfação sexual. Basta estar disponível.